E viveram... Apaixonados para sempre.

Lá estava eu, estressada, exausta e com vontade de chorar de frustração no meio do shopping, sozinha. Eu estava perto da praça de alimentação, onde fica a maior concentração de gente, comendo feito porcos e engordando a cada mordida. Eu acho engraçado, sabe, e resolvi me sentar para observar as pessoas.
E, depois de alguns minutos sem ver nada de muito interessante, entediada, estava prestes a me levantar quando eu vi algo que realmente prendeu a minha atenção. E me sentei de volta, com o queixo na mão e os olhos brilhando para aquela imagem.
Havia um casal de velhinhos de mãos dadas, caminhando e olhando um para o outro, com sorrisos ternos e trocando olhares amorosos. Eles conversavam de uma forma tão... maravilhosa, e pareciam tão... apaixonados! Apaixonados de verdade, intensamente, como um casal de jovens amando. E, na verdade, eu sei porque isso me comoveu desse jeito.
Isso me comoveu desse jeito porque eu realmente não achava que existisse um amor assim, que mesmo depois de tantos anos de convivência contiuasse o mesmo, com o mesmo fogo do começo. Eu nunca tinha visto algo assim antes, em toda a minha vida, e ver isso agora, nesse cenário nada-a-ver, nada romântico e por isso inesperado, me deixou bestificada. Petrificada... Maravilhada!
E, para minha surpresa, me peguei pensando que quero ser essa velhinha quando eu crescer... que quero ter um amor como o dela, envelhecer ao lado de alguém... Quero me sentar na varanda com ele em um fim de tarde, me balançando na cadeira de balanço e observar meus netos brincarem no quintal... E acho que sei a pessoa que imagino ao meu lado nesse futuro tão distante...
Ela se sentou em uma mesa enquanto ele foi buscar algo para os dois comerem. Eu mudei de cadeira para poder vê-los melhor, e percebi que ela estava sentada exatamente como eu - com as pernas descruzadas e o queixo apoiado na mão. A diferença era que eu olhava para ela e ela olhava para o pedaço do céu que o teto do shopping deixa à mostra. E eu quis tanto saber em que ela pensava, que quase podia ouví-la pensando em seu passado, retrocedendo e imaginando como tinha chegado até ali. Talvez ela até tivesse visto um casal de velhinhos caminhando de mãos dadas quando ela tinha a minha idade, e talvez também tenha pensado que queria ser como eles no futuro, como eu estava fazendo. Mas claro, era apenas minha imaginação falando alto de novo.
E percebi que ali estava eu novamente, fazendo coisas que a maioria das pessoas não fazem e notando coisas que a maioria das pessoas não nota. E fiquei ali por mais um bom tempo, observando os dois comerem e se olharem com aquele jeito extraordinário, e imaginando se ambos fazem ideia da sorte que eles têm...