Mais uma introdução ao mistério da imaginação de cada um.

Quase sempre imagino histórias sobre gente que nunca existiu. Na maioria das vezes, histórias de amor intensas e envolventes, mas dificilmente com um final feliz. E esse é o meu problema com os leitores novos – eles gostam de finais felizes, mas eu trabalho com a realidade. Bem, não exatamente assim, mas vamos lá.
Quando achei o chaveiro com o rosto dessa mulher, que viria a se tornar Carolina de Aragão, perguntei-me a quem pertencia tal rosto tão lindo e delicado, e o que esta havia feito para se ter tantos adornos com o seu rosto gravado neles. Certamente teve uma história de vida incrível – só me restava saber qual.
Antes que comecem e me repreender, sim, eu pensei em perguntar às vendedoras, mas então qual seria a graça? A imaginação é a ferramenta que ergue o homem às alturas, e é de lá a melhor vista.
E foi colocando a minha cabeça para funcionar que descobri quem foi a mulher do chaveiro. Seu nome é Carolina de Aragão, e vou lhes contar a sua história e a do seu maior amor.

de 2/11/2010

Era uma tarde chuvosa de quinta-feira, a água escorria pelas janelas dos carros, tornando difícil enxergar a estrada à sua frente. Na calçada, eu olhava as vitrines do outro lado da rua, e então, meu rosto se contorceu em dúvida. Apertei os olhos para enxergar melhor. Achei que tinha visto algo brilhando – um brilho incomum, que me atraía cada vez mais de curiosidade, quase emudecendo o barulho da cidade à minha volta que comemorava algo que até então eu era incapaz de compreender.
A água encharcava meu cabelo e escorria pela minha face. Minhas roupas já grudavam no corpo, os automóveis faziam barulho na pista com suas buzinas nervosas, a maioria ansiosa para chegar logo em casa e dar continuidade à comemoração com uma garrafa de champanhe na mão e a calçinha da namorada na outra. E foi ignorando pensamentos como este que pus os pés no asfalto, movida pela curiosidade ainda sobre aquele ponto luminoso.
Eu já estava na metade do meu caminho até o outro lado da rua quando, por instinto, olhei para a minha esquerda e tive a imagem do exato momento quando o motorista se distraiu com algo bastante irritante no telefone ao seu ouvido. Pude ver sua boca se abrindo para gritar com a pessoa com quem falava, mas tudo o que ouvi, alguns instantes depois, foi o som paralisante do freio imediato do carro e ruídos de algo se quebrando que realmente não sei de onde vieram. Daí eu parei de olhar, pois o carro estava perto demais e tive medo de que me machucasse, mas chocada demais para me mexer. Estava frio.
Foi assim que eu morri.