de 2/11/2010

Era uma tarde chuvosa de quinta-feira, a água escorria pelas janelas dos carros, tornando difícil enxergar a estrada à sua frente. Na calçada, eu olhava as vitrines do outro lado da rua, e então, meu rosto se contorceu em dúvida. Apertei os olhos para enxergar melhor. Achei que tinha visto algo brilhando – um brilho incomum, que me atraía cada vez mais de curiosidade, quase emudecendo o barulho da cidade à minha volta que comemorava algo que até então eu era incapaz de compreender.
A água encharcava meu cabelo e escorria pela minha face. Minhas roupas já grudavam no corpo, os automóveis faziam barulho na pista com suas buzinas nervosas, a maioria ansiosa para chegar logo em casa e dar continuidade à comemoração com uma garrafa de champanhe na mão e a calçinha da namorada na outra. E foi ignorando pensamentos como este que pus os pés no asfalto, movida pela curiosidade ainda sobre aquele ponto luminoso.
Eu já estava na metade do meu caminho até o outro lado da rua quando, por instinto, olhei para a minha esquerda e tive a imagem do exato momento quando o motorista se distraiu com algo bastante irritante no telefone ao seu ouvido. Pude ver sua boca se abrindo para gritar com a pessoa com quem falava, mas tudo o que ouvi, alguns instantes depois, foi o som paralisante do freio imediato do carro e ruídos de algo se quebrando que realmente não sei de onde vieram. Daí eu parei de olhar, pois o carro estava perto demais e tive medo de que me machucasse, mas chocada demais para me mexer. Estava frio.
Foi assim que eu morri.

4 comentários:

  1. Nossa, que triste!!! Pensamentos antes ada morte melhores do que recordações velhas e inquietantes! Adoreiiiii

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  2. Eu já desejei uma morte assim pra mim... rs. (serio mesmo)
    Adorei seu espaço!

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  3. Karolinne, isso tudo aconteceu com voçê (isto é uma narração) ou é uma ficção, advinda de sua imaginaçao.
    Caso seja a primeira opção, tu viste a morte de perto, nascertes de novo. (mais um dia de aniversário); caso seja a segunda opção, tiro o chapel para a sua imaginaçao.
    Eu acho que foi a primeira. E a descrição está pra lá de ótima. E todo o texto incrivel.

    marcelo mascaro.

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"Já que se há de escrever, que pelo menos não se esmaguem com palavras as entrelinhas"
Clarice Lispector"