o diário de Marília Xavier. - Parte hum

Aquele cheiro de livro velho adentrava por minhas narinas, me deixando mais extasiada do que se tomasse drogas pela primeira vez. Meus olhos percorriam todo o espaço encantador, mas não pude avistar o que eu procurava. Sei que está por aqui em algum lugar, tem de estar!
O silêncio era quase mortal, cortado apenas pelo barulho agradável de páginas sendo viradas e mentes trabalhando para armazenar o conteúdo de cada uma delas. Paro um instante para observar a quantidade de estantes preenchidas ao meu redor, e então vibro com a ideia de que, em cada um deles, há um novo universo a ser descoberto, e tenho o poder de conhecer todos eles, lendo um por um, deliciando meus alhos e enchendo meu cérebro de informações estimulantes! Quanto mais leio, mais quero ler. Esse é o mundo dos livros.
Passo os dedos pelos livros de uma estante de alguma seção, não me lembro exatamente qual, e presto atenção nas cores e texturas das capas. Há livros de todos os tipos aqui, livros de capa mole e livros de capa dura. Capa de couro, de tecido e capa de papel. Me interesso principalmente pelos de capa dura, não sei bem o por quê, mas é como se me atraíssem de uma forma inevitável... Deveria ver minha expressão ao folhear um.
Ao longe avisto um capa dura azul-marinho com detalhes dourados na estante de cima. Estava tão alto que era quase inalcançável. Mas sou uma garota alta, e, na ponta dos pés, agarrei o livro empoeirado com as minhas mãos.
Soprei a capa à procura de um título, mas não havia nenhum. Apenas desenhos delicados da cor dourada, que pra mim nada significavam naquele momento. Abri na primeira página e, com uma letra redonda e rabiscada, havia iniciais escritas a lápis, na parte mais alta da folha amarelada.
M.X.
E nada mais.
Era um livro grosso e já bastante manipulado. Suas páginas estavam todas preenchidas com uma caligrafia grande, pesada, e quase não pude entender o que havia escrito. O tempo deixara suas marcas, manchando a maioria dos registros, mas eu ainda estava empenhada em decifrá-los.
Fechei o livro com muito cuidado, porque apesar da capa dura, ele era realmente muito frágil, e eu teria de tomar muito cuidado com ele se ainda quisesse desvendar todos os seus mistérios.
Mas quando eu estava colocando o livro dentro da minha bolsa, vi um pedaço de papel cair no chão. Mas o que...
Me abaixei para apanhar e desdobrei a folha.
"Você tem certeza disso?"
Me assustei. Aquilo soava quase como uma ameaça aos meus olhos já arregalados do susto, mas eu logo descobriria que ameaça era uma palavra constante no vocabulário de M.X.

Um comentário:

  1. Esse é para dona Marília, que estava aniversariando ontem e ainda - ainda! - não recebeu nenhum presente meu. Feliz aniversário, Mari, que façamos mais 30, 40 e 50 anos juntas, sempre visando comprar batata palha e espalhar no brigadeiro para nutrir nossos netinhos. Hahaha! ;D

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"Já que se há de escrever, que pelo menos não se esmaguem com palavras as entrelinhas"
Clarice Lispector"