Sobre escolhas, libélulas e metáforas

Naquele mesmo dia, ainda no shopping e igualmente exausta, sentei em frente à porta automática de entrada e saída. Dessa vez, eu não tinha o menor interesse nas pessoas, e mal percebia o fluxo de entrada e saída lá. Se acontecesse um assalto ali mesmo, bem na minha frente, eu não teria nem percebido.
Na verdade, eu estava prestando atenção em algo muito menos interessante, mas completamente frustrante. E depois de um dia inteiro procurando uma calça que coubesse em mim, e tendo como resultado final de uma busca de cinco horas uma única calça que eu nem mesmo gostei, já estava frustrada demais, e isso era tipo, a gota d'água.
Um barulho irritante entre todos os murmúrios das pessoas a minha volta começou a me perturbar, e ao procurar a origem dele com os olhos, achei uma libélula batendo insistentemente contra a única parte da porta de vidro automática que não se abria. De todos os lugares, ela foi escolher logo a porta fechada! Tendo em vista que se ela voasse meio metro para a direita ou para a esquerda teria sua liberdade de volta, era muito frustrante vê-la naquela situação. Mas o que ela pensa que está fazendo? Como se ficar insistindo naquilo fosse adiantar, como se o vidro fosse desaparecer magicamente dali se ela batesse mais um pouco!
Mas que droga, qual o problema desse inseto? Será que ele não vê que a saída está bem ali? Não custa nada sair dali para examinar se tem ALGUMA parte da porta aberta, mas não, ela prefere ficar ali, lutando contra a física, insistindo no problema. Ela está tão empenhada em sair, que não enxerga a saída bem debaixo do seu nariz... Quero dizer, se libélulas tivessem nariz.
Eu me perguntei se não deveria ir lá e ajudá-la a voar para fora, se não deveria mostrar a ela o erro. Mas daí eu pensei: se eu fizer isso, ela nunca vai aprender como sair daquela situação, e acontecerá de novo, só que não vou mais estar ali para ajudá-la. Então talvez eu devesse deixar que ela achasse a saída por si própria... Mas isso parecia tão cruel, sabendo que eu estou vendo a saída e ela não. Era como se eu não me importasse... Mas decidi esperar.
E eu esperei. Esperei mesmo, mas pareceu passar uma eternidade, e descobri que: ou essa libélula é realmente muito burra, ou ela gosta mesmo de continuar se machucando, insistindo em algo sem futuro...
E aí eu cansei de pensar e fui fazer algo construtivo, porque, vou dizer, ficar olhando pra um inseto por quinze minutos é realmente uma séria falta do que fazer!!

Um comentário:

  1. Concordo que mostrar a saída seria fácil, mas ela não aprenderia. Assim são as pessoas, e assim somos nós. O certo é deixar que cada um encontre a sua saída sozinho, embora dá agonia de só observar e nada fazer, nos sentimos inúteis.

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"Já que se há de escrever, que pelo menos não se esmaguem com palavras as entrelinhas"
Clarice Lispector"